R&S e Inclusão
Os ganhos da inclusão são ainda maiores do que inicialmente foram pensados

13/11/2020 713

O primeiro passo para criarmos processos seletivos inclusivos é entender sua necessidade e importância. Os processos seletivos inclusivos começaram a ser pensados a partir da percepção de que tradicionalmente os processos de recrutamento e seleção são excludentes, ainda que de forma não intencional. Isso ocorre porque existem diferentes “pontos de partida” para as diferentes pessoas que se candidatam, e esse fato é decorrente das desigualdades sociais estruturais da nossa sociedade. Assim, é necessário reconhecer que as pessoas pertencentes aos grupos de diversidade enfrentam barreiras cotidianas invisíveis a quem não conhece tais realidades. 

Existem barreiras materiais, como por exemplo: as barreiras arquitetônicas às pessoas com deficiência, as barreiras espaciais às pessoas que moram em favelas, e as barreiras financeiras às pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade social. Além dessas, também existem as barreiras atitudinais que dizem respeito a atitudes de outras pessoas que impedem ou prejudicam a participação social dos grupos minorizados. O conceito de ‘Vieses Inconscientes’ ajuda a entender mais profundamente essa questão. Os Vieses inconscientes são associações feitas de forma inconsciente que resultam em julgamentos, premissas e atitudes em relação aos outros, impactando assim nas tomadas de decisão. Em outras palavras, os vieses inconscientes dão origem aos preconceitos incorporados e naturalizados por nossa sociedade, se baseados em estereótipos de gênero, raça, classe, orientação sexual, idade, etc. 

Sendo assim, muitos processos seletivos são atravessados pelos vieses inconscientes, reproduzindo exclusões e desigualdades sociais estruturais e resultando em equipes de trabalho pouco diversas e inclusivas. Por exemplo, iniciativas que pretendem promover mulheres a cargos gerenciais não deveriam excluir mulheres mães de crianças na primeira infância, simplesmente por julgarem, a partir de preconceitos, que elas serão menos engajadas e comprometidas com o trabalho. 

Logo, se faz necessário que as empresas que desejam ser mais inclusivas e diversas avaliem toda sua estrutura e cultura organizacional, identifiquem como está distribuída sua força de trabalho, promovam campanhas que valorizem a diversidade e inclusão enquanto valor e construam um plano de ação e metas nesta direção. Vale lembrar que para possuir uma equipe diversa, é necessário atrair o interesse de pessoas diversas e garantir a permanência e desenvolvimento profissional das mesmas. 

Um dos caminhos para acelerar o processo de incorporação da diversidade é o estabelecimento de ações afirmativas, que têm o objetivo de reparar as desigualdades estruturais, ao mesmo tempo em que outras iniciativas complementares estão em andamento. As ações afirmativas podem ser de diferentes tipos: auxílios/bolsas, cotas/reserva de vagas, entre outras possibilidades. Vale destacar que as ações afirmativas precisam ser avaliadas ao longo do tempo e não geram resultados se realizadas sem o conjunto de outras ações que atuem no enfrentamento das desigualdades. 

É fundamental que as iniciativas de diversidade e inclusão sejam monitoradas a partir de indicadores que estejam vinculados à estratégia das organizações. O estabelecimento de metas também auxiliam nesse processo. É fundamental que todos os níveis da organização comprometida com a diversidade e inclusão conheçam e estejam engajados em relação ao seu cumprimento.  

Além de atuarem a favor da diversidade e contribuírem para os resultados positivos que pesquisas apontam há alguns anos - maior criatividade, produtividade e resultados financeiros maiores (Mckinsey, 2020) - os processos seletivos inclusivos também colaboram para fortalecer a transparência e conformidade (compliance) das organizações, na medida em que funcionam como novos paradigmas que ampliam os parâmetros da governança corporativa. Os ganhos são ainda maiores do que inicialmente foram pensados.

Referências: 

Estudo da Diversidade na América Latina.

Este artigo foi elaborado em parceria com Dandara Ribeiro, analista de acompanhamento da Troca.

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