Clima organizacional
Estratégias cotidianas para prevenir e reduzir os danos da ansiedade nas organizações

Dandara Ribeiro 29/10/2020 1038

As empresas e lideranças são atores fundamentais para auxiliar seus colaboradores e colaboradoras a enfrentar a ansiedade no cotidiano de trabalho. Para isso, o primeiro passo é procurar saber quais são os gatilhos mentais que desencadeiam as crises. Se o quadro de ansiedade estiver relacionada a alguma situação da vida pessoal, a empresa deve adotar uma postura empática, acolhedora e flexível, oferecendo o apoio necessário. Algumas ações que podem ser adotadas são: 

1) Repensar os prazos de entrega

2) Redistribuir as tarefas entre a equipe de trabalho, de modo que não sobrecarregue ninguém 

3) Dar feedback em que reconheça o valor do colaborador

4) Criar planejamentos e estratégias junto ao colaborador

5) Perguntar como pode ajudar

6) Oferecer um ou mais dias de folga

Mas se existem muitos(as) colaboradores(as) adoecendo e apresentando sinais de ansiedade, é necessário que a empresa perceba isso como um analisador institucional e perceba a necessidade de estabelecer mudanças temporárias ou permanentes em sua estrutura e cultura organizacional. O analisador institucional pode ser um dado estatístico, uma fala durante uma reunião ou qualquer outro acontecimento que provoque uma análise, ou seja, uma ruptura e uma explicitação de elementos da realidade e da cultura institucional. Além disso, o analisador carrega em si o potencial de intervenção, ou seja, pistas do que precisa ser mudado (Rossi e Passos, 2014). Alguns sinais que os(as) líderes devem estar atentos(as) com relação a saúde de sua equipe são:

1) Queixas frequentes de sintomas relacionados a estresse, como dor de cabeça, gastrite, ou dor no peito

2) Dificuldades para se concentrar

3) Insônia

4) Preocupação excessiva e constante

5) Instabilidade do humor

6) Agitação, incapacidade de relaxar

7) Sensação de sobrecarga

8) Sentimento de solidão e isolamento

Além disso, a empresa deve estar atenta aos indicadores de produtividade, clima organizacional e satisfação interna. Isso porque os efeitos da ansiedade afetam diretamente no rendimento e relacionamento dos colaboradores. Por exemplo, a insônia, um dos principais sintomas, prejudica o aprendizado, a memória e a atenção do(a) profissional, além de deixá-lo(a) mais estressado(a). Esse simples exemplo demonstra como uma equipe com altos níveis de ansiedade tem seu rendimento e desenvolvimento profissional comprometidos. Para prevenir e até mesmo reverter esse cenário, é fundamental que as organizações se comprometam a zelar pela saúde emocional de seus colaboradores. Abaixo, listamos algumas dicas para implementar na rotina de trabalho da sua empresa:

1)Disponibilize para a equipe um momento para realização de exercícios de respiração, alongamento, yoga ou meditação conduzidos por um(a) profissional especializado. Pode ser os primeiros 15 ou 30 minutos do horário de trabalho.

2)Ofereça sugestões de ferramentas de organização individual e coletiva. Existem muitas plataformas e aplicativos que quando implementados no cotidiano de trabalho tornam as tarefas mais objetivas e claras. 

3)Faça pesquisas internas acerca do clima organizacional e nível de satisfação dos(as) colaboradores(as).

4)Abra um canal para receber feedbacks da equipe de trabalho. 

5)Defina as metas da empresa levando em consideração os efeitos para a saúde dos(as) colaboradores(as).

6)Realize os planejamentos de forma clara e possível de ser alcançada. 

7)Inclua nos planejamentos a possibilidade de imprevistos. Não espere que tudo ocorra exatamente como você esperava. 

8)Oriente sua equipe a fazer uma tarefa de cada vez (se for possível).

9)Invista em um serviço de escuta sensível para o quadro de colaboradores(as).

Aspectos sociais

Por fim, vale ressaltar que a ansiedade muitas vezes está relacionada ao cenário social. Isso quer dizer que aspectos como o contexto histórico-político, o modo de vida, as formas de relação e as formas de opressão afetam diretamente a vida das pessoas, e consequentemente sua saúde física e mental. 

Percebe-se então que o cenário atual, de enfrentamento à pandemia do Covid-19, está diretamente ligado ao aumento do nível de ansiedade social. Diante da existência de uma ameaça real de contágio (e morte), sentimentos como  medo, insegurança, instabilidade, e impotência, despertam de forma avassaladora. Esse acontecimento alterou de forma significativa as formas de comunicação, estudo, trabalho, deslocamento, cuidado, consumo e relação. Portanto, é comum a sensação de incerteza com relação ao futuro e falta de controle. António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas fez um alerta para o aumento do sofrimento psicológico durante (e após) o cenário de pandemia. Ele afirma que:

"Mesmo quando a pandemia estiver sob controle, luto, ansiedade e depressão continuarão afetando pessoas e comunidades. (...) Serviços de saúde mental são parte essencial de todas as respostas governamentais à covid-19. Eles devem ser ampliados e totalmente financiados." 

Em maio de 2020, um documento escrito pela ONU afirma que é "provável um aumento a longo prazo no número e na gravidade dos problemas de saúde mental", e que caso não sejam tomadas providências, a covid-19 "possui potencial para [se tornar] uma grande crise de saúde mental", além de "uma crise de saúde física".

Cabe destacar também que os grupos mais vulneráveis ficaram ainda expostos a riscos físicos e mentais. Por exemplo, pessoas em situação de rua correm alto risco de contágio pela inacessibilidade às medidas de prevenção. Além disso, muitas mulheres estão tendo que enfrentar dupla e tripla jornada de trabalho - profissional, doméstico e educacional/materno. 

A Troca enquanto empresa de impacto social, vem atuando diretamente na redução de danos do Covid-19 e oferecendo assistência à população em situação de rua, através do projeto Cozinha do Bem. Além disso, nossos esforços seguem com a finalidade de incluir e apoiar o desenvolvimento de pessoas em situação de vulnerabilidade no mercado de trabalho e dar suporte às empresas nos novos desafios. 

Referências:

Análise institucional: revisão conceitual e nuances da pesquisa-intervenção no Brasil 

OMS: 'O impacto da pandemia na saúde mental das pessoas já é extremamente preocupante'

ONU alerta para aumento do sofrimento psicológico durante a pandemia

ONU: serviços de saúde mental devem ser parte essencial de respostas ao coronavírus

Policy Brief: COVID-19 and the Need for Action on Mental Health


Dandara Ribeiro

Gestora de Gente, Gestão e Inclusão

Mulher, cis, branca, não deficiente e formada em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense. Mestranda em Gestão e Controladoria Pública pelo programa MAI DAI da UERJ. Atua nas áreas clínica, social e do trabalho a partir da abordagem transdisciplinar e da metodologia de fazerCOM. É movida pelo sonho de transformar vidas, construindo redes através do coletivo, da saúde, do trabalho, e da educação.

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