Quando a pauta é Diversidade e Inclusão, muito se fala sobre a importância da equidade. Mas você sabe realmente o que  esse termo significa? Sua empresa está de fato promovendo a equidade no ambiente de trabalho?

A verdade é que inclusão sem equidade não existe, e neste artigo eu vou explicar o porquê.

O que é inclusão?

Para entender o que é equidade, primeiramente é necessário entender o conceito de inclusão. Isso porque ainda hoje, muitas pessoas e empresas confundem o conceito de inclusão com integração. A partir da imagem abaixo, irei explicar melhor essa diferença:

Exclusão: ocorre quando determinados grupos e pessoas não têm acesso a espaços, empresas, organizações  e oportunidades. Exemplo: mulheres não terem direito ao voto.

Segregação: ocorre quando são criadas instituições e espaços específicos para determinados grupos considerados “diferentes”, “fora da norma”. Exemplo: turmas/escolas específicas para pessoas com deficiência. 

Integração: ocorre quando os grupos considerados “diferentes” estão dentro de determinada organização, mas não pertencem efetivamente àquele lugar. Geralmente, isso acontece por uma perspectiva de que aquela pessoa deve se adaptar ao espaço ou grupo. 

Inclusão: ocorre quando a diversidade é verdadeiramente acolhida, permitindo que todas as pessoas tenham acesso a todas as oportunidades disponíveis. Para que ela ocorra é fundamental que as estruturas de uma organização sejam revistas e atualizadas de forma frequente, a fim de escutar as necessidades das pessoas que pertencem àquele espaço e que as possíveis barreiras existentes sejam destruídas. 

Em outras palavras, a inclusão social começa quando percebemos que é dever de todes, todos e todas a luta pelo pertencimento das pessoas em todos os espaços, sem exceção. Em outras palavras, a inclusão ocorre quando ninguém fica para trás, quando as lutas e necessidades individuais são cuidadas pelo coletivo. Afinal de contas, vivemos em sociedade, e o problema vivido por um grupo específico afeta todes nós. 

De forma macro, podemos perceber isso com o exemplo da pandemia causada pela Covid-19.  Quanto maior o número de pessoas negando a problemática da pandemia, maiores foram as curvas de contágio. Uma pessoa doente sem se cuidar, tinha o potencial de afetar todas as outras ao seu redor - no trabalho, no prédio, no transporte público, no mercado, dentro de casa, etc. 

Mas isso não vale só quando a pauta é saúde pública. Na verdade, todos os problemas sociais são nossos - de todes nós. Se não estamos sendo afetados(as) por eles, é porque provavelmente estamos sendo causa, direta ou indiretamente, enquanto usufruímos dos nossos privilégios, ignorando a realidade social. 

Lembro da história contada por uma amiga, que possui deficiência visual, e tem uma cadela guia. Certo dia, ao sair do shopping , ela, sua cadela guia e  sua amiga entraram na fila para pegar um táxi. Chegada a vez delas, o que ocorreu é que os taxistas se recusavam a levá-la pela presença da cadela, mesmo ela sinalizando que era seu direito assegurado por lei acessar os espaços públicos e privados acompanhada da cadela guia. Na medida em que elas não conseguiam pegar um táxi para ir para casa, a fila foi crescendo atrás delas. Os táxis também se enfileiravam, e por mais que as pessoas que estavam atrás pudessem pegar um táxi e ignorar a situação, não foi isso que ocorreu. Pelo contrário: todas as pessoas presentes na fila se recusaram a pegar qualquer táxi enquanto ela não pegasse. Esse simples exemplo mostra o que é inclusão - é quando um problema social que afeta uma pessoa ou grupo específico não é individualizado e é cuidado por todas as pessoas. Por isso digo que a inclusão é nossa responsabilidade. 

E agora que você já sabe o que é inclusão, posso te explicar melhor o que é equidade. 

Equidade é o conjunto de ações criadas e implementadas para permitir o acesso de pessoas que possuem necessidades específicas a todas as oportunidades. Através da imagem abaixo, fica evidente que a igualdade não basta, ao vivermos em uma sociedade que tem em sua base uma estrutura desigual. Ou seja: para que a igualdade se concretize, é fundamental que existam ações para promover a equidade.

Mas como?

Promova ações de inclusão - a primeira ação necessária para a equidade ser possível é abrir as portas da empresa para a diversidade entrar. Mas vale lembrar que não basta abrir vagas exclusivas para grupos de diversidade se os requisitos da vaga ou as etapas do processo seletivo são excludentes, como por exemplo: exigir inglês fluente, eliminar candidatas que sejam mães, exigir muitos cursos complementares, etc. É claro que existem pessoas de grupos de diversidade que possuem inglês e bastante ensino qualificado, porém esses requisitos podem ser barreiras para que pessoas que vivenciam alguma vulnerabilidade conquistem uma oportunidade de emprego e de desenvolvimento profissional. 

Sensibilize toda a empresa - equidade e inclusão andam juntas, e por isso é fundamental que toda a empresa esteja de fato comprometida com a cultura de diversidade da organização. Por isso ações de sensibilização são fundamentais para desconstruir vieses inconscientes e eliminar as barreiras atitudinais que muitas vezes atualizam a opressão nas organizações. Além disso, é muito importante esclarecer que ações diferenciadas para pessoas que necessitam de condições de acesso e permanência não é privilégio. Privilégio é não vivenciar barreiras no dia a dia de trabalho e de vida. 

Aprenda com as diversidades e singularidades - lembre sempre que cada pessoa é única, e que sendo assim, todos os grupos são heterogêneos, apesar de terem pontos comuns. Por isso, pergunte com frequência para cada pessoa quais são suas necessidades singulares e quais são os desafios que pode apoiá-la a superar. Para pessoas com deficiência pode ser o acesso a uma tecnologia assistiva, para mães pode ser uma rotina de trabalho flexível, para pessoas negras pode ser ter mais representatividade na empresa e para pessoas em situações vulnerável economicamente pode ser o acesso a um curso profissionalizante. Esses são só alguns exemplos bem genéricos que servem apenas para ilustrar que grupos de diversidade podem ter necessidades bem específicas que você e sua empresa só saberão perguntando e aprendendo com a diversidade. 

Realize pesquisas de clima organizacional com perguntas específicas sobre a sensação de pertencimento de todas as pessoas na empresa - para haver inclusão e equidade é fundamental que as pessoas se sintam acolhidas, respeitadas, ouvidas e realmente pertencentes na empresa. 

Invista na adoção de ações inclusivas envolvendo toda a empresa - sim, diversidade é uma pauta social, mas isso não significa que não precisa de investimento, seja ele econômico ou não. Tornar a estrutura da empresa acessível, fazer comunicações inclusivas com suporte de legendas, libras e audiodescrição, flexibilizar horários de trabalho, oferecer suporte ao aprendizado, realizar palestras e workshops sobre o tema, oferecer auxílio creche, etc, são exemplos de ações do compromisso da empresa com a diversidade.  

E se você chegou até aqui e está pensando se vale a pena todo o trabalho necessário para promover a equidade na sua empresa, eu gostaria de deixar uma provocação: você já parou para pensar nos conhecimentos que ainda não possui por não conviver com pessoas diversas? Pois é! A falta de acesso da diversidade nos espaços empobrece (e muito!) as experiências de todas as pessoas presentes. Investir na inclusão não é bom só para grupos de diversidade, mas sim para toda a empresa e toda a sociedade.