Clima organizacional
Entre ansiedade e produtividade: os cuidados necessários

Dandara Ribeiro 26/10/2020 1582

O que é ansiedade?

“Ansiedade” é um termo que tem sido usado para expressar uma série de estados mentais e físicos que aparecem como indício de que algo não vai bem. Talvez, após tanto ler essa palavra por aí, você esteja se perguntando - afinal, o que é ansiedade? Essa pergunta é legítima e nesse artigo nós explicaremos o que é ansiedade, qual a diferença entre ‘estado ansioso’ e ‘transtornos de ansiedade’ e quais são os principais sintomas e gatilhos mentais relacionados ao trabalho.  

Mas antes de aprofundar esse assunto é importante deixar claro que na Psicologia existem diversas abordagens que entendem e se relacionam com esse termo de forma singular. Aqui trataremos de forma geral, atravessando diferentes campos de saber - Psicologia clínica, social e do trabalho - e teremos como referência dados do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais 5.

Estado ansioso x Transtorno de Ansiedade

Para começar, é importante entender que a ansiedade ocorre em diferentes níveis de gravidade e complexidade, podendo ser desde um estado que ocorre de forma pontual até o que chamamos de Transtornos de Ansiedade. Neste artigo, iremos abordar dois tipos principais - o Transtorno de Ansiedade Social (TAS) e o Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG).

Em um nível mais simples, a ansiedade pode ocorrer como uma reação natural a uma determinada situação, apresentando sintomas leves em momentos específicos (como tensão muscular e taquicardia durante um evento especial ou uma apresentação, por exemplo). Nesse caso, entendemos que a ansiedade se dá de forma ‘adaptativa’ e ‘provisória’, ou seja, como uma antecipação do futuro que ocorre de forma passageira, com um início e fim, e sem gerar consequências graves. Porém em casos mais sérios, ela pode evoluir para os transtornos que se diferenciam dessa ‘reação natural’ por serem excessivos, persistentes e desproporcionais. Vale lembrar que essa avaliação deve ser feita por um profissional clínico, que considere os fatores contextuais e culturais e realize os encaminhamentos necessários. 

Um dos transtornos de ansiedade mais evidentes no cotidiano do trabalho é o  Transtorno de Ansiedade Generalizada, caracterizado por preocupações generalizadas, excessivas, persistentes e difíceis de controlar, acompanhadas de sintomas físicos. Essas preocupações estão relacionadas a vários domínios, incluindo desempenho no trabalho. Os sintomas experimentados incluem “inquietação ou sensação de ‘nervos à flor da pele’; fatigabilidade; dificuldade de concentração ou ‘ter brancos’; irritabilidade; tensão muscular; e perturbação do sono.” (DSM-5; APA, 2014). Como resultado, a pessoa passa a ter seu desempenho comprometido, podendo ocorrer queda na produtividade, dificuldade de concentração, conflitos nos trabalhos de equipe, e um sofrimento acentuado.  Além disso, a TAG pode ou não estar acompanhada de outras doenças de ordem psíquica, como a depressão, por exemplo. Nesses casos, o acompanhamento psicológico é ainda mais necessário e um tratamento psiquiátrico também pode ser indicado. 

Outro transtorno de ansiedade que atravessa o cotidiano de trabalho é o Transtorno de Ansiedade Social (TAS), mais conhecido como Fobia Social. O indivíduo com esse transtorno tende a ser “temeroso, ansioso ou se esquiva de interações e situações sociais que envolvem a possibilidade de ser avaliado” (DSM-5; APA, 2014). Nesse caso, o colaborador demonstra ser tímido, introvertido, antissocial, e excessivamente preocupado com o que as pessoas pensam a seu respeito. Por outro lado, costuma ser perfeccionista, determinado, e apresenta um bom desempenho. 

Para pessoas com transtornos de ansiedade, propostas de apresentação em público ou outras em que ocorra uma avaliação de desempenho diante de outras pessoas, podem ser delicadas e problemáticas. Por isso, é importante que o setor de RH das empresas e as lideranças estejam atentas à saúde de seus colaboradores, criem estratégias para acolher as singularidades e ofereçam suporte para a superação de obstáculos.

Sintomas e gatilhos mentais

A ansiedade é baseada em uma antecipação do futuro, que geralmente vem acompanhada de medo. Além disso, ela está relacionada à sensação de necessidade de controle e de um acúmulo de preocupações. Sendo assim, seus sinais incluem sintomas como: inquietação, tensão muscular, taquicardia, insônia, dificuldade de relaxar, medo excessivo, irritabilidade, dificuldade de concentração, tremores, sensação de falta de ar ou asfixia, tontura, náuseas, desmaios, etc.

O termo ‘gatilho mental’ é utilizado no campo da psicologia para identificar situações, acontecimentos e momentos que estão associados aos sintomas de alguma questão psicológica. No caso da ansiedade, é fundamental reconhecer quais fatores costumam desencadear o estado ansioso ou a crise de ansiedade para então poder lidar com elas de forma mais saudável. Os gatilhos podem ser situações vividas no âmbito pessoal ou profissional, e estão associados a fatores individuais e coletivos. Em qualquer um dos casos, é fundamental que a pessoa em sofrimento tenha uma rede de apoio, ou seja, que ela possa confiar e contar com as pessoas que estão ao seu redor para enfrentar essas questões. Alguns dos gatilhos mais comuns relacionados ao trabalho são:

1) sobrecarga 

2) prazos apertados

3)metas inalcançáveis

4)ameaça de demissão

5)falta de reconhecimento

6)situações de conflito

A partir de informações específicas a respeito da ansiedade e de como alguns Transtornos de Ansiedade afetam a saúde e a produtividade de muitos(as) colaboradores(as), percebe-se que a ansiedade é uma doença que prejudica a saúde física e mental do indivíduo, comprometendo também seus relacionamentos e atividades diárias. Assim, é fundamental que as empresas estejam atentas à saúde da sua equipe para realizar a gestão de pessoas de forma mais eficiente e cuidadosa. 

Referências

Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais 5 


Dandara Ribeiro

Gestora de Gente, Gestão e Inclusão

Mulher, cis, branca, não deficiente e formada em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense. Mestranda em Gestão e Controladoria Pública pelo programa MAI DAI da UERJ. Atua nas áreas clínica, social e do trabalho a partir da abordagem transdisciplinar e da metodologia de fazerCOM. É movida pelo sonho de transformar vidas, construindo redes através do coletivo, da saúde, do trabalho, e da educação.

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