Nós conhecemos uma história de Brasil que parte na maioria das vezes dando início ao processo de colonização dos Portugueses nas terras de cá. Mas essas terras eram desocupadas ou já existia vida por aqui?

Existia vida, e muita!

Da grande jornada pelo estreito de Bering à 50 mil anos atrás ou mesmo dos grupos humanos que viveram em Lagoa Santa/MG à 12 mil anos, a certeza que podemos ter nos dias de hoje é: o Brasil é um Estado sobreposto por uma comitiva invasora portuguesa aqui chegada em 22 de abril de 1500.  Segundo dados da FUNAI, o órgão controverso de proteção às populações indígenas (aldeadas), estima-se que aqui viviam 3 milhões de parentes distribuídos em cerca de mil povos, sendo 2/3 estabelecidos no litoral e 1/3 nas regiões interioranas do território supostamente nacional, atualmente, estima-se uma população indígena de 838 mil parentes, distribuídos em 305 etnias.

Os povos Originários daqui viviam uma vida em comunhão com a natureza convertendo a própria para seu bem estar, mas também devolvendo a ela todo esse cuidado para que ela fosse de fato uma das melhores terras para se habitar e cultivar. Os povos indígenas possuem conhecimentos acerca dos bens naturais e dos processos ecológicos que proporcionam condições para realizar atividades em consonância com a conservação ambiental. Nesse sentido, é possível dizer, que a aproximação entre esses povos e os cidadãos em geral, pode servir como uma oportunidade para conscientizar a população sobre a relação harmoniosa e equilibrada que os indígenas possuem com o meio ambiente, proporcionando trocas de saberes.

O milho que tanto comemos hoje em dia é herança desse povo, assim como o inhame, paçoca, pamonha, tacacá, beiju de mandioca, bananas e muito mais. Nossa história no Brasil está totalmente vinculada à herança desse povo tão rico de cultura. E por que não falamos disso? Por que esse mesmo povo vem sofrendo pelas consequências da colonização até hoje. Existe um genocídeo físico e cultural da cultura Indígena acontecendo nesse exato momento e isso nos impede de realmente nos conectar com a cultura originária do Brasil e também de reconhecermos toda a contribuição deles para tudo que somos e vivemos.  Suas terras são invadidas por garimpeiros, pescadores, caçadores, posseiros, fazendeiros, empresas madeireiras... Outras terras são cortadas por estradas, ferrovias, linhas de transmissão de energia ou têm partes inundadas por usinas hidrelétricas.  Matar a vida Indígena é também matar a natureza! Entendendo que a cultura Indígena está ligada a preservação de todo o meio ambiente.

A valorização da cultura dos povos Originários desde cedo enriquece a visão das pessoas trazendo debates sobre preservação ambiental, cultura, educação, valores e respeito às diferenças. Os saberes e a cultura tradicional são de grande importância na formação da sociedade brasileira e o contato com esses povos pode gerar um resgate do conhecimento ancestral da nossa sociedade. Além disso, reafirmar a herança cultural indígena dessas regiões mais urbanizadas é relevante para reduzir os impactos negativos sobre essas comunidades que resistem até os dias de hoje nas aldeias. Até porque os povos indígenas são especialmente vulneráveis onde estão em menor número e nas regiões mais urbanizadas e industrializadas, como as regiões Sudeste e Sul do Brasil. Assim, a cultura dessas populações minoritárias está  ameaçada (Observatório do Terceiro Setor 2017, ONU 2017). Com isso, importantes conhecimentos tradicionais podem ser perdidos e uma parcela relevante da identidade cultural brasileira pode ser esquecida.

Ainda há tempo de nos juntarmos a essa luta!  Amanhã, dia 19 de abril é o Dia da Luta e Resistência dos povos Indígenas e esse é um convite para sentarmos à fogueira e seguir uma tradição milenar de ouvirmos as histórias dos que aqui ainda podem nos contar. Memória é viva e o Brasil é terra indígena, a valorização das nossas culturas originárias pode nos proporcionar saberes tão simples mas com impactos complexos.