Ao pensarmos em uma sociedade mais justa e sustentável, precisamos considerar os enormes desafios da inclusão, no mundo todo. Segundo dados da Oxfam, os mais ricos do mundo (2.153 pessoas) detém mais riqueza do que 60% da população mundial, cerca de 4,6 bilhões de pessoas.
Na história, vemos que as políticas, movimentos, lutas fazem a distribuição da riqueza e as desigualdades maiores ou menores ao longo do tempo. No Brasil, as desigualdades são o retrato dessa engrenagem que concentra e desapropria ao mesmo tempo. E temos visto que a pandemia tem um efeito direto no aumento da desigualdade.
Dados das desigualdades
Segundo Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU, o Brasil é o segundo país com pior distribuição de renda do mundo, em que 1% da população concentra 28,3% da renda nacional, ficando apenas atrás do Catar. Com base no Índice de Gini, que mede a desigualdade e a distribuição de renda, somos o sétimo país mais desigual do mundo.
A inclusão é o primeiro passo para enfrentarmos as desigualdades, assim como para falarmos de direitos humanos, cidadania e justiça para todas as pessoas. O tema inclusão é um grande desafio, porque as desigualdades estruturam a nossa vida em sociedade. A pobreza, sexismo, racismo, capacitismo e tantas outras excluem e reduzem o potencial das pessoas, principalmente das mais vulneráveis.
Políticas de inclusão
As políticas de inclusão são necessárias porque a exclusão é estrutural. Tendo isso em vista, é importante esclarecer a diferença entre dois termos: integração e inclusão. Enquanto a integração localiza no sujeito o foco da ação, a inclusão é um processo que considera também, e principalmente, a intervenção na realidade social, nas estruturas excludentes existentes.
Nesse sentido, pelo seu caráter de desconstrução das desigualdades, a inclusão vai muito além do recrutamento, seleção e da inserção das pessoas nos espaços institucionais. É fundamental que esse processo seja realizado de forma permanente, para que as barreiras existentes possam ser superadas também dentro das organizações.
Em função dessa complexidade, é fundamental considerarmos nas políticas de inclusão a interseccionalidade, ou seja, diversos fatores relacionados a identidades sociais, tais como gênero, cor/raça, classe, etnia, religião, orientação sexual, para que sejam mais efetivas.
As iniciativas de inclusão precisam considerar esses aspectos para que não reproduzam a exclusão em vez de superá-la.
Por exemplo, programas para inclusão de jovens de regiões periféricas que estabeleçam pré-requisitos como a fluência em inglês ou acesso à internet, podem contribuir para perpetuar as desigualdades. Isso não significa que não tenham jovens com esse perfil, mas é necessário considerarmos os diferentes pontos de partida e oportunidades que atravessam cada pessoa.
Nas organizações, a inclusão é o caminho para se conectarem com as demandas da sociedade. Ao avançarem na representatividade dos grupos existentes, têm a oportunidade de gerar valor a partir dos diferentes saberes e características singulares das pessoas, com impacto positivo direto na performance dos seus negócios.
O estudo da McKinsey sobre diversidade corporativa identificou que as empresas percebidas pelos funcionários como diversa em termos de gênero têm probabilidade 93% maior de superar a performance financeira de seus pares. O estudo também identificou que ambientes em que as pessoas têm liberdade para assumirem suas identidades, há mais colaboração e engajamento.
Além desses benefícios, acreditamos que as organizações podem desempenhar um papel de desenvolvimento do potencial das pessoas e ampliarem o seu impacto positivo na sociedade. Seguem algumas dicas para a inclusão da diversidade:
1)Faça um mapeamento dos públicos com os quais se relaciona e gostaria de se relacionar;
2)Conheça os impactos gerados pelo negócio e identifique as oportunidades de atuação;
3)Desenhe os objetivos e a metodologia da iniciativa de inclusão, assim como resultados esperados e indicadores de monitoramento;
4)Seja transparente e comunique as etapas do processo com todas as partes interessadas;
5)Promova a cultura inclusiva de forma permanente em toda a organização, em um ambiente com segurança psicológica, em que a pessoas têm a liberdade de assumirem suas identidades.
Referências:
Relatório Oxfam “Tempo de Cuidar – O trabalho de cuidado não remunerado e mal pago e a crise global da desigualdade”. Edição 2020. https://www.oxfam.org.br/noticias/bilionarios-do-mundo-tem-mais-riqueza-do-que-60-da-populacao-mundial/
Relatório de Desenvolvimento Humano da Nações Unidas (ONU).Edição 2019. https://nacoesunidas.org/relatorio-de-desenvolvimento-humano-do-pnud-destaca-altos-indices-de-desigualdade-no-brasil/
Estudo O Estado da Diversidade Corporativa na América Latina. Edição 2020. https://www.mckinsey.com/br/our-insights/diversity-matters-america-latina
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